Sem carro, sem fgts, sem casa - Para
comprar um apartamento da Bancoop, o vendedor Rogério Navarro e a mulher, a
professora Silvana, rasparam o saldo do FGTS e venderam o carro. A ideia era
parar de pagar aluguel e atender ao pedido da filha, que sempre quis um quarto
só para ela. Só que a Bancoop quebrou, a OAS assumiu a obra e o prédio nunca
saiu do chão. Hoje, Navarro e a família vivem de aluguel em um apartamento na
Zona Leste. Ele diz não ter mais esperança de receber a casa. “Nunca mais
tivemos notícias da OAS.”(Paulo Vitale/VEJA)
Passados
quase dez anos desde que a Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo
(Bancoop) quebrou, e seis desde que a OAS começou a assumir alguns de seus
empreendimentos, compradores de 376 imóveis até hoje não ouviram o tilintar das
chaves do apartamento. Quando a cooperativa quebrou, em 2006, deixou quinze
obras inacabadas. Oito foram repassadas para a OAS. Outras duas foram
transferidas para construtoras menores - a MSM e a Tarjab, que concluíram os
empreendimentos no prazo. Já no lote da OAS, três empreendimentos nunca ficaram
prontos. Localizados em diferentes bairros de São Paulo, eles hoje se encontram
abandonados. No Residencial Casa Verde, na Zona Norte da capital, há apenas um
grande bloco de concreto onde deveria estar a garagem, e mais nada. A vegetação
tomou conta do lugar. Os únicos funcionários que aparecem de tempos em tempos
são faxineiros encarregados de dar fim a tudo o que possa se transformar em
foco de criação do Aedes aegypti. No Liberty, no centro de São
Paulo, a obra avançou um pouco mais antes de também parar. O esqueleto da
construção foi erguido, mas ainda não tem nem elevador. A situação não é melhor
no Villas da Penha II, na Zona Leste: embora algumas poucas casas projetadas
tenham saído do papel, continuam sem portas nem janelas.
A
OAS, em recuperação judicial desde que foi tragada pelo escândalo de corrupção
na Petrobras, simplesmente diz que não tem dinheiro para terminar o que
começou. Ainda há um quarto prédio inacabado, porque quem não quer que a
empresa siga com a obra são os próprios ex-cooperados da Bancoop. Eles brigam
na Justiça para que a OAS perca o direito sobre o prédio, por discordarem das
condições estabelecidas para a retomada da construção. Ao todo, chega perto de
500 o número de ex-cooperados da Bancoop que, nas mãos da OAS, nunca receberam
seu apartamento ou brigam na Justiça para não perdê-lo. É uma situação bem
diferente da do ex-presidente Lula e seu hoje famoso tríplex do Guarujá, caprichosamente
reformado e mobiliado pela empreiteira investigada na Lava-Jato.
A
Bancoop foi criada em 1996 com a promessa de oferecer a seus associados imóveis
a um custo 40% menor que o do mercado. Em sua maior parte, os cooperados eram
filiados ou parentes de filiados ao Sindicato dos Bancários, por sua vez,
ligado ao PT. Em 2006, a Bancoop fechou, deixando um rastro de prédios
inacabados e centenas de famílias na ruína. Em 2010, ao varrer os subterrâneos
da entidade, o Ministério Público descobriu o que a levara a quebrar. As
investigações da contabilidade da cooperativa revelaram práticas
estarrecedoras. Extratos bancários indicavam volumes milionários de saques em
dinheiro feitos por meio de cheques emitidos pela Bancoop a si mesma ou ao seu
banco. Outros cheques mostravam de forma mais clara os seus destinatários:
dirigentes da cooperativa, os cofres do diretório nacional do PT e até um
ex-segurança do então presidente Lula, Freud Godoy, já conhecido por seu
envolvimento no "escândalo dos aloprados". A conclusão do MP à época
foi que dirigentes da entidade, além de encher os próprios bolsos, haviam usado
o dinheiro dos cooperados para financiar campanhas eleitorais de candidatos do
PT, repassando valores para empresas de fachada que faziam "doações oficiais"
aos seus comitês eleitorais.
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Entre
os diretores da Bancoop denunciados pelo MP à Justiça estava João Vaccari Neto.
O ex-tesoureiro do PT, agora réu no processo do petrolão e preso desde abril,
responde no caso da cooperativa por estelionato, formação de quadrilha,
falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. Afirma o promotor José Carlos Blat,
responsável pela investigação: "A Bancoop foi o embrião dos grandes
esquemas criminosos que vieram em seguida, como o mensalão e o petrolão".
Agora,
uma nova apuração do MP, também conduzida por Blat, verifica se houve
ilegalidade no repasse das obras da Bancoop para a OAS e se isso acarretou
prejuízo para os mutuários. Na semana passada, VEJA ouviu os relatos de
cooperados que afirmam ter sido coagidos pela empreiteira a aceitar termos
duríssimos em troca da manutenção de seus contratos. Alguns perderam com eles
as economias de toda uma vida. Outros ainda lutam para um dia ao menos poder
colocar os pés naquilo que foi um sonho. Nenhum deles relata ter sido convidado
a vistoriar seu imóvel na companhia do presidente da OAS.
Fonte: VEJA
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